Camila Narrando
Acordei com o sol me dando bom dia e junto com ele, uma forte dor de cabeça. Me levantei e fui tomar um banho quente, bem do jeito que eu gosto. Sai do boxe do chuveiro colocando meu roupão e ficando de frente ao enorme espelho que ali havia.
Recordei da noite anterior e conclui que em menos de 48 horas que reencontrei Luan, já perdi o namorado e quase o emprego. Parabéns Luan Rafael, obrigada por sempre bagunçar o que eu tanto tento arrumar: a minha vida. - Dizia Camila com tom de indignação.
- O que você disse? - Dizia Bernardo parado atrás na porta do banheiro.
- Ai que susto! Uai, o que eu disse? Dizia Camila desconversando o assunto.
- Não seja fingida, Camila. Meus ouvidos funcionam muito bem e eu ouvi você falar no nome desse... Desse cara!
- Sério que ele ainda pode ser um motivo de uma das nossas brigas? Bê, já se passaram 6 anos. Até eu que fui a que mais sofreu na história, já esqueci. Você devia fazer o mesmo.
- Será que esqueceu mesmo, Mila?
O silêncio ecoou sobre nós, quando de repente ouvi uma risada vindo do meu irmão.
- O que foi agora? Resolveu rir da minha cara?
- Tô lembrando do dia que vi pela primeira vez vocês dois se beijando, nas férias da mansão, lembra?! Cara, eu dei um soco na cara do Luan, você se desesperou. Caramba, foi hilário.
- Dizia gargalhando me fazendo rir junto.
- Lembro, claro. E foi a partir desse dia que você começou a ser "amiguinho" da Bruna! -Fazia aspas com os dedos.
- Ah, vai ficar lembrando dessas coisas agora? Nem lembrava disso aí.
- Será que não lembrava, Bê?
- Ah, vai se catar!
Os dois riam juntos recordando das boas histórias que colecionaram com Luan, Bruna, Julia, Matheus, Pedro e Maria. E pela primeira vez, sem brigas.
- Ei, como você entrou aqui e eu nem percebi?
- Não é muito difícil fazer qualquer coisa que você não perceba, mana. Lerda desse jeito...
- Ha-ha-ha, fala, fubá!
- Eu tenho a cópia da chave, maninha. Vim te ver e aproveitar pra deixar umas panquecas que a mãe fez.
- Aiiii, te amo, te amo! - Camila se levantava pra abraçar e enche-lo de beijos.
Depois de mais uns minutos ali, Bernardo se despedia pra voltar ao trabalho.
Me sentei no sofá e comecei a relembrar os momentos de todos nós juntos novamente. Que saudade de preparar nossas incríveis festas, de encher a cara e não lembrar de nada no dia seguinte... Mas teria uma forma de curar essa saudade começando pela pessoa que mais me fez falta, a Bruna. Queria tanto sentir aquele abraço que só ele sabia dar, ouvir aquela risada escandalosa. -Sorria sozinha relembrando.
Peguei meu celular e nos contatos seu nome continuava salvo com o apelido que só eu a chamava, "Bubuzinha". Depois de ficar minutos encarando o seu número, resolvi ligar.
- Alô? - sua voz soou desconfiada.
- Bruna? - Estremeci ao ouvi-lá.
- Quem fala?
- Aqui é a Camila, tudo bem? - Meus olhos insistiam em lacrimejar.
- Que Camila? Camila Vieira do curso de Teatro? Tudo sim, linda. Você sumiu... Devia te bater!
- Camila Salsa. Lembra dessa mal-acabada aqui?
- Meu Deus, Camila!!! -Ela gritava e parecia que eu podia ver o sorriso dela se formando.
- Que felicidade, eu sabia que você não iria resistir ficar longe de mim por tanto tempo.
- O tempo passa e você não muda hein, Bubuzinha? Sempre se achando! Que saudade de você.
A gente sorria num descompasso, o tempo voava.
- Nós precisamos recuperar o tempo que perdemos!
Camila podia vê-la do outro lado do telefone, saltitante, do seu jeitinho próprio.
O papo engatou-se e em menos de minutos elas pareciam que nunca tinham parado de se falar.
- O que você acha de irmos comer um Japa hoje a noite? Preciso te ver!
- Ô Bubu, queria um lugar mais reservado, a saudade está grande, me entenda! Vou lhe matar de abraços e querer saber de todos os bafos.
- Então digamos que não tem lugar melhor pra a senhorita vir do que a minha casa!
- Bruna... Acho melhor não.
- Sério que você ainda é apaixonada no meu irmão?
- Claro que não!
- Não é isso que eu tô vendo. Não quer vir aqui pra evitá-lo, então óbvio que ainda o ama.
- Ta, ta. Tudo bem, eu vou.
- Eu sabia que você não ia me decepcionar! -Dizia rindo maliciosa.
- Você sempre consegue o que quer.
Depois de muito conversarmos, desligamos a ligação. Ficando combinado de que no finalzinho da tarde eu iria a casa dos Santana's vê-la.
Um misto de nervosismo e ansiedade tomava conta de mim.
Procurava algo pra me ocupar, mas eu não conseguiria parar de pensar em outra coisa a não ser se Luan estaria em casa ou não. Passei o resto da tarde jogada no sofá da sala, assistindo e comendo as Panquecas que Bernardo havia trazido pra mim.
Olhei pelo retrovisor do celular e já eram 17:00PM, eu havia marcado com Bruna às 18.
Corri para o banheiro e tomei meu banho. Depois da água quente ter me relaxado mais, sai de lá me enxugando e fui fazer uma make básica. Escolhi uma roupa simples, soltei meus cabelos e fiquei me alto analisado gostando do que via.
Peguei as chaves do apartamento, do carro e meu celular e antes de sair decidi atualizar minha conta no Instagram.
@Camila_Salsa: "Um dia você entende que o tempo não é inimigo. E que ele é o nosso maior mestre. Que tudo vem na hora que deve vir. Que não adianta espernear nem se esconder da vida. Que a fuga não é a melhor saída. E que no fim das contas a gente sempre acaba agradecendo tudo que passou."
Tranquei o Apê e desci pra garagem. Entrei no carro checando o endereço que Bruna havia me dado, não sabia que era tão perto assim. Liguei a rádio como sempre fazia e havia acabado de começar a música nova do Luan, "Tudo que você quiser". Eu tinha que admitir, aquela música mexe com o psicológico até de quem não está amando... Pensei.
Logo avistei o condomínio e segui para a entrada. Na portaria meu nome já estava liberado então fui procurar a bendita casa.
Estacionei em frente, peguei a bolsa, meu celular e com um certo receio segui até a porta já tocando a campainha. Ouvi o barulho das chaves e logo aquela porta de nos separava desapareceu, minha Bubuzinha estava ali tão linda, tão mulher. Um sorriso surgiu em nossos rostos e na mesma hora nos abraçamos tentando acalmar um pouco da saudade de tinha morado em nós por esses 6 anos.
Depois de tagarelarmos enquanto ela me mostrava toda a casa sentamos no sofá da sala e em poucos minutos ela estava ali de novo... A nossa intimidade.
Após longos minutos colocando uma a outra a par de tudo que perdemos no tempo em que tivemos separadas, ouvi um barulho de passos na escada e vejo dona Marizete descendo, sorridente, mais jovem e linda do que nunca.
- Mila minha filha, quanto tempo. Como você está? - Dizia Marizete indo em direção a Camila, abraçando-a.
- Dona Mari que saudade, vou bem e você?
- Sem o dona, por favor. Vou bem graças a Deus. Como você está linda, sempre foi!
- Ih gente, eu tô aqui tá? -Dizia Bruna nos fazendo rir do seu biquinho emburrado, que somente ela e o irmão conseguiam fazer.
-Vou trazer alguma coisa para vocês comerem, já volto. -Anunciou Marizete já indo rumo a cozinha.
Bruna resolveu escolher um filme para a gente assistir e eu fui ver se Dona Mari estava precisando de alguma coisa e na metade do caminho ouço ela gritar:
- Mila minha filha faz tanto tempo que você não vem aqui que eu nem lembro mais seus gostos. Prefere bolo de cenoura ou chocolate? -Antes mesmo d'eu responder ouço uma voz que eu tanto conhecia ecoando pela casa e fazendo meu coração parar.
- Ela prefere de cenoura, Mamusca.