terça-feira, 13 de janeiro de 2015

• Capítulo 1

Camila Narrando

- Ah, mas que merda, mas que merda! 
Camila procurou na mesinha ao lado da cama o maldito despertador que estava tocando muito, mas muito alto. Ao alcançar o aparelho, arremessou-o na maior distância que conseguiu, mas ele não parou de tocar. 

- Puta que pariu! -Ela xingou novamente e saiu andando no escuro para mais um golpe naquele aparelhinho dos infernos. Respirou fundo e apertou o botão desligar. Dez horas da manhã, em pleno domingo, e ela de pé com um humor péssimo. Sua cabeça doía - certamente pela quantidade de vodkas e tequilas que havia consumido na noite anterior. Ou talvez por um certo outro motivo. Motivo esse que ela não gostava de lembrar, mas que parecia perseguir seus pensamentos de qualquer maneira. 
“Não Camila , não. Você não quer pensar nisso. Você não vai pensar nisso. A festa foi ótima, não foi? Foi, claro que foi. Não teve nada demais. Você só bebeu até cair, mas isso não é novidade. Isso! NENHUMA NOVIDADE.” 

Ela pensava alto e andava de um lado para o outro do quarto, quando resolveu descer para tomar café. Não conseguiria mais dormir, precisava de alguma espécie de distração e aquilo era urgente. Sua mãe a avistou assim que desceu as longas escadas da casa.

- Bom dia meu anjo! – Dona Ana disse com um sorriso. 
- Só se for pra você! – Camila respondeu irritada. Bernardo seu irmão, riu. 
- Nossa, mas que mau humor filha! O que aconteceu? 
- Desculpe, mãe. Nem aconteceu nada. – Camila disse sentando-se ao lado do irmão na bancada da cozinha. 
- Aconteceu sim que eu sei. – Ela disse mexendo nos cabelos da filha que estavam extremamente bagunçados. 
- Já disse que não aconteceu nada, mãe. – Ela mentiu. 
- Filha, pode se abrir com a mamãe, somos amigas, não é? 
- Somos, somos... – Camila rolou os olhos. – Mas eu não tenho nada pra... 
- ELA É CORNA! – Bernardo gritou quase cuspindo os sucrilhos que estava comendo e rindo muito alto. 
Em um surto, Camila se pendurou no pescoço do irmão, estapeando o garoto. E a Dona Ana tentou separar os dois, mas ela não parava. E Bernardo ria. Ria muito, ria alto, e Camila só estava ficando mais irritada com aquilo tudo. 
- VAI SE FU... 
- CHEGA VOCÊS DOIS! Parem de brigar AGORA ou teremos conseqüências sérias aqui. – mudou a expressão e Bernardo reprimiu o riso. – Bernardo, sobe AGORA.
- Mas mãe eu tô... 
- AGORA! 
- Ah, tudo bem. – Ele bufou e subiu as escadas comendo uma maçã. 
- Agora vamos ao o que aconteceu, filha. 
- Eu não quero falar sobre isso mãe, é sério. – Camila olhou piedosa e a senhora sorriu. 
- Está bem, a escolha é sua. Mas qualquer coisa... 
- ... Qualquer coisa eu falo, mãe. – A garota sorriu sem mostrar os dentes. – Vou subir.

Camila entrou em seu quarto e foi direto para o banheiro. Tomou um banho rápido para tentar acordar daquele dia que provavelmente era um pesadelo qualquer. Colocou um short curto e uma blusa de moletom grossa e estava preparada para telefonar para alguma das amigas. Foi quando um toque suave na porta do quarto fez com que ela virasse sua atenção pra lá. 

- Mila, posso entrar? – Bernardo perguntou com as mãos nos bolsos. Camila afundou a cara no colchão ao ver o irmão ali. 
- Já tá aqui mesmo. – Ela respondeu simplesmente, mas ele não se moveu. 
- Desculpa. É que foi inevitável te zoar e... 
- ... Tudo bem Bernardo, relaxa. 
- Mas é melhor assim, não é? Aquele tal de Luciano é um merda, fala sério. 
- Eu sei. – Ela disse em olhar pra ele, que já estava abaixado em frente a sua cama. 
- Você não parece triste... – Bernardo disse ao levantar o rosto da irmã com uma das mãos. 
- E não estou. – Camila sorriu breve e Bernardo riu. 
- Então porque todo o escândalo? 
- Ah, por nada. Eu gosto de ser uma dramática, você sabe. 
Mila sorriu e Bernardo a acompanhou. Apesar das brigas, os dois tinham uma amizade incomum para dois adolescentes tão diferentes. Do modo deles, conseguiam se entender perfeitamente. 
- Além do mais... – Mila continuou – Esse fim de relacionamento doeu muito mais nele do que em mim. – Ela piscou e desatou a rir, sem que o irmão entendesse. 
- O que você fez? – Bernardo arregalou os olhos, interessado. 
- Pensei que seu informante, vulgo Luan já tivesse te dito... – Ela torceu o nariz. – Ah, eu sumi com as roupas dele, larguei ele no quarto amarrado na cama e... bom, isso foi devidamente fotografado por metade do colégio. – Camila gargalhou com a cara do irmão. 
- Você é impossível! Isso foi incrível! – Bernardo riu alto, sendo interrompido pelo celular da irmã que tocava alto ao seu lado. – Argh, é a Bruna. – Ele fez cara feia dando o telefone pra irmã, que riu. – Vou pro meu quarto. 
- Certo, vai lá. – Ela sorriu vendo o irmão sair do quarto falando sozinho. 

– Fala Bru, meu amor!
Ela adorava a Bruna, tinham uma afinidade fora do comum, o que não acontecia nem um pouco com o irmão dela. O brochante, Luan Rafael!
Camila desligou o telefone feliz por ter conversado com a amiga sobre o acontecido. Ok, ela era a mais nova vítima de Luciano, mas quem tinha saído por baixo nessa, era ele. Todos os presentes da festa estavam rindo da cara e da situação em que o garoto se encontrou depois da vingança de Camila. Ela não era a coitadinha, era admirada. Isso fez com que aquele domingo ficasse um pouco melhor. 
“Está vendo, bobinha. Você se saiu bem dessa, muito bem por sinal. Agora todos os garotos vão saber se comportar perto de você, ui. Isso é incrível, não é? Claro que é.” 

Luan Narrando

Acordei com o celular despertando, o relógio batia ás 9:30 da manhã e eu realmente não queria sair do quarto hoje por conta da noite ontem. Bebi mais do que o normal... A galera se reuniu na casa do Marcola e fizemos a social de lei, só que essa festinha teve um puta escândalo. Camila irmã do meu brother Bernardo descobriu a traição do namoradinho Luciano, os dois estando na festa. Foi um barraco, mas pelo menos me rendeu boas risadas. Aquela brabinha precisava levar um pé na bunda pra deixar aquele EGO dela de lado. 
Fui ao banheiro tomar um banho e escovar os dentes, me vesti e desci.
Encontrei com a Mamusca e o pai sentados na mesa tomando café da manhã.

- Meu filho, nem vi a hora que você chegou ontem. Por essas e outras não deixo sua irmã ir com você pra essas festas. - disse Amarildo olhando sério para Luan.
- E quem disse que é pra deixar? EU sou homem e EU posso sair sem hora pra voltar. A Piroca não tem nem idade pra sair, uai. Está ótimo ela em casa. -Disse Luan sem se importar.

- Olha o machismo dos dois! A Bruna tem idade já sim, e ela só não vai com você porque não pediu ainda. Quando ela pedir irei deixar e tenho a absoluta certeza que você, seu Luan, vai cuidar dela. Não é mesmo? - falou Marizete autoritária.
- Foi pro pau... -disse coçando a cabeça- Mamusca, ta bom! Sou bom em tudo, não é possível que como guarda-costas da irmã mais nova eu também não seja. -falou bufando, fazendo seus pais se entre olharem, segurarem o riso.

-Filho, você não me disse ontem que ia na casa do Bernardo hoje cedo? -Disse Amarildo olhado apreensivo pra o filho.
-Pai, esqueci totalmente. Vou só pegar uma maçã porque já to atrasado.
-Filho, passa no quarto da sua irmã e acorda ela. Diz que eu preciso da ajuda dela hoje. Mais tarde seus tios vem jantar aqui. -disse Marizete
- Beleza Mamusca!

Fui no quarto da Bruna acorda-lá, uma tarefa muito difícil pra não dizer ao contrário. Entrei em seu quarto e tinha e vestígios de comida por todo lado, filmes e o computador aberto em blog de maquiagem. Ri disso.
A Pi dormia que nem um anjo, deu pena de acordar. Mas nada que não resolva.
Me joguei na cama dela e comecei a gritar -ACORDA PIROCA LINDA DO IRMÃO-, sábado lindo pra você ajudar a mãe nos afazeres da casa né? To indo, beijo minha gata.
Bruna não teve tempo nem de xinga-lo, conhecendo bem a irmã ele fez o que fez e já saiu rindo em direção ao seu quarto antes que Bruna o matasse.
-VAI A MERDA, SEU GORDO!- Gritou Bruna.

- Mas será possível que os seus filhos não são unidos nunca, Amarildo? -Disse Marizete segurando o riso.
- NÃO ENTENDO! Quando eles estão fazendo coisas legais você diz "olha só os meus filhos" e quando eles brigam, se matam e fazem qualquer trela.. eles são os MEUS filhos, né?! -respondeu Amarildo se fingindo de bravo fazendo com que os dois soltassem gargalhadas.
- Aowww casal mais lindo véio do mundo, to indo já viu?- Falou Luan descendo as escadas da casa e indo em direção a porta.
Tchau filho! -disseram seus pais.

Cheguei no condomínio do Bernardo e encontrei com Matheus, fomos juntos até a casa dele, lembrando do acontecido de ontem. Eu simplesmente amava tirar a paciência de Camila e estava ansioso pra chegar lá e irrita-lá chamando a de Corna até não poder mais. -ria imaginando-

Camila Narrando

Estava no telefone com a Bruna, que segundo ela foi acordada pelo idiota do irmão. Sinceramente a Bru é uma guerreira, eu jamais agüentaria morar na mesma casa que o Luan.
... Mas isso não muda o fato de que você é corna, uai. – Uma voz extremamente irritante surgiu no quarto e Camila não precisou nem virar pra trás pra saber quem era. 
- Já ouviu falar em bater na porta antes de entrar, Luan? – Camila bufou virando-se para ele, que riu. 
- Estava aberta, minha gata! – Ele debochou. 
- Minha gata? Francamente... Vaza daqui Rafael, anda logo. 
- Sabe... – Luan disse sem mover um centímetro – Você é corna, mas pelo menos fez alguma coisa que prestasse. Quem diria, Camila Salsa me surpreendendo. Fez uma coisa boa na vida, deu uma lição naquele filho de uma égua.
- Ele é um merda, mas é melhor que você, Luan. -Camila disse encostando na porta ao lado dele. – Agora, não me estressa, some daqui. 
- E se eu não quiser? – Ele perguntou segurando o rosto dela com uma das mãos, sendo levemente empurrado para trás. 
- LUAN, não brinca. Eu posso ser muito pior com você do que eu fui com o Luciano. 
- Ah é? – Ele disse entrando no quarto e sentando na cama dela. – Pago pra ver. 
- Vaza. – Camila respondeu irritada e Luan riu. 
- Esse é o seu melhor? Caramba, você é péssima nisso! – Luan disse olhando nos olhos de Mila, que fulminaram de raiva. 
- Eu vou contar até três. – Ela olhou para o teto quando ele riu. – Um... 
- Eu não vou sair.
- Dois... 
- Agora eu estou com mais medo de você, hein? - Luan gargalhou. 
- Três, tchau. 
- N-Ã-O. 

Luan soletrou a palavra e Camila não se conteve. Pegou um porta jóias de porcelana que estava na bancada e tacou na direção de Luan, acertando-o na testa. O garoto caiu para trás na cama e o porta jóias se quebrou em mil pedaços ao tocar o chão, fazendo um barulho muito alto contra o piso. Camila arregalou os olhos quando percebeu o que tinha acabado de fazer. 

- PUTA QUE PARIU, VOCÊ É LOUCA? – Luan gritou segurando a testa com uma das mãos e Camila viu que escorria sangue da sua sobrancelha. 
- A CULPA É SUA! – Ela gritou mais alto e meio desesperada, correndo em direção a ele. 
- Tira a mão de mim, sua doida! – Luan disse quando ela se aproximou. 
- Eu nem encostei em você, seu ridículo! – Camila reclamou e Bernardo entrou com Matheus no quarto. 
- O que foi isso? – Ele arregalou os olhos vendo a testa do amigo sangrar. 
- A sua irmã não bate bem da cabeça não cara. Essa louca precisa de internar! Os chifres não fizeram bem a ela. – Luan debochou e Camila fechou os pulsos, mas se conteve. 
- Eu mandei você sair, Luan. A culpa é TODA SUA. – Ela gritou. 
- MINHA? Ah, que ótimo! – Luan riu sarcástico. – Sua dor de cotovelo não é culpa minha.

- Caralho, eu nunca vou entender vocês dois! -Disse o irmão de Camila, bufando- Vem aqui Luan, vamos descer! Acho que tem um kit de primeiros socorros na cozinha... – Bernardo disse e Luan levantou, seguindo-o. 
- Louca... – Ele murmurou e Camila rolou os olhos. 
- Idiota. – Ela respondeu alto e ele não virou pra trás. 
Então a porta se fechou num baque ensurdecedor. Matheus seu melhor amigo, estava em pé ao lado da cama, com as mãos nos bolsos, calado e observando. Até que Camila se abaixou para pegar os pedaços maiores do porta jóias no chão e olhou para o melhor amigo.

- Não diga nada! Já estourei a taxa de hoje. - Disse Camila
- Eu não ia dizer nada. – Ele suspirou. – Mentira, eu ia. – Ele riu e ela também. 
- Eu não fiz por mal, juro. – Camila sentou-se encostada na cama e Matheus a acompanhou. 
- Eu sei que não. – Ele sorriu. 
- Mas eu nunca imaginei que minha mira estivesse assim tão boa... Ou que ele fosse idiota o suficiente pra ficar parado quando viu o negócio voando na direção dele. – Ela riu sozinha relembrando. – Você acha que eu sou louca, não é? 
- Não. – Matheus riu. – Talvez um pouco. 
- Muito, você quer dizer. 
- Depende da situação. 
- Ele me provocou. – Camila bufou e Matheus riu alto. 
- Vocês dois são muito idiotas. 
- Eu nada, ele que é. – Mila fez bico e o garoto a abraçou de lado. 
- Você parece uma garotinha de dez anos dizendo isso. – Ele riu. – Aliás, vocês dois ficaram presos naquela época, agem como se tivessem dez anos. 
- Nós nunca nos demos bem, Math. E nunca vamos nos dar. – Camila rolou os olhos. 
Camila conhecia Luan e Matheus desde pequenos. Eles sempre estudaram no mesmo colégio, e sempre foram amigos de seu irmão. Desde aquela época, ela e Luan sempre brigaram. Não no início, porque eram muito novos, mas foram necessários poucos meses para que começassem a se odiar. As coisas pioraram na adolescência, onde os eles assumiram posições bem diferentes no colégio. Ela, a queridinha, a garota popular que todos conheciam e adoravam. Ele, o perturbador da turma, "metido a cantor e músico". Que nem a Camila descrevia o Luan. E diferente das meninas do colégio, ela não achava Luan nada demais. Já as outras garotas sempre deixavam as claras o quando Luan era prestigiado. A amizade de Camila e Matheus, por sua vez, sempre esteve intacta. Nenhum dos dois sabia explicar exatamente o porque, mas ainda eram amigos. Pedro chegara no colégio tempos depois, e se uniu ao quarteto que algumas das melhores amigas de Camila não suportavam. E foi assim que a distância entre os dois que já era um fato e que se concretizou, e desde então Luan e Camila não podem ficar juntos por muito tempo no mesmo ambiente sem que alguém saia moralmente ferido – ou pelo menos bastante irritado. 

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