quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

•Capítulo 6


- O que realmente aconteceu pra você ter medo de altura? – Ele perguntou e ela gargalhou. – Eu fiquei curioso depois de ontem. Achei que tivesse respondido certo. 
- Você respondeu o que qualquer um responderia, eu fiz todos acharem que eu tinha caído da escada. Mas pense bem, isso não me daria medo de altura. – Mila revirou os olhos. – Esse povo acredita em cada coisa. 
- Ei, eu também acreditei! – Luan interrompeu e a garota riu. 
- Ah, Luan ... – Ela olhou para baixo timidamente. – Você vai rir de mim. 
- Prometo que não vou. – Ele sorriu. 
- Até parece! – Mila ainda olhava pra baixo. – Tudo bem, eu digo. Quando eu era pequena, sei lá, tinha uns seis anos, eu estava com o Bernardo na fazenda da minha avó. Ele disse que eu não conseguiria subir numa árvore, então eu subi. Só que começou a chover muito, com raios e trovões, aquele idiota saiu correndo e me largou lá por umas duas horas – Mila tinha o olhar fixo – foram as piores horas. Eu não conseguia descer. Então desde então eu tenho medo de altura. Pode rir. – Mila olhou pra Luan que sorria. 
- Eu prometi e não vou rir. – Luan sorriu engraçadamente. – Mas é engraçado. Eu achei que fosse algo com montanhas russas, aviões, sei lá! 
- Eu preferia que fosse. – Ela disse e os dois riram. Luan riu um pouco demais, então Mila presumiu que ele estava rindo da história, e deu um tapa no ombro dele, que segurou o riso. 
- Foi mal! – Ele respondeu um carinha de urso e Mila riu. – Vem, levanta! 
- Pra que? – A garota franziu a testa, mas foi puxada para cima. 
- Vamos subir essa árvore! – Luan sorriu maroto e os olhos de Camila arregalaram. 
- Luan , para! Eu não vou subir! – Mila disse entre dentes, mas com vontade de rir. 
- Você tem que superar seus medos!
– Luan disse num sorrisinho malicioso e Mila rolou os olhos. 
– Minha vez de perguntar alguma coisa, não? 
- Ah droga! – Luan sentou e Mila riu. 
- Eu vou te perguntar uma coisa que possivelmente lhe deixará irritado comigo – Ela disse e o garoto arqueou a sobrancelhas, curioso.
Uai, mas que pergunta é essa? To ficando com medo já! -Disse Luan arregalando os olhos e rindo em seguida.
- Pra que tanto receio? Sou eu, Camilinha, sua amiguinha! -olhava pra o garoto com um ar de fofura, o que não era comum dela.
- Camilinha, amiguinha? Cara, isso ta estranho! Vai, manda a ver!-disse rindo fazendo a garota rir também.
- Porque você deixou de ficar nos amassos com a Amanda na social do Marcola, pra cuidar da minha ressaca?
- Ah... Porque, porque... Porque eu você é irmã do meu melhor amigo e ele estava ocupado fazendo coisas melhores, mais interessantes e eu fui te ajudar. Fiz mal?
- Não, não fez. -disse Camila serena, apenas olhando para o magnífico sorriso tímido do Luan.
- Então, vamos a próxima pergunta? 
- “Conte ao seu novo amigo um segredo seu” – Mila leu em voz alta e riu. – Ah, que ótimo. Acho que fizemos isso. 
- Realmente – Luan concordou, rindo. – Mas agora eu quero outro segredo, pode ir falando. 
- Ah, que sem graça você! – Mila disse com uma voz infantil e os dois riram. – Então vai você primeiro. 
- Tá bom, vai. – Luan pensou. – Eu só durmo com a TV do quarto ligada. 
- Ah, grande coisa. – Mila disse e os dois estavam rindo. – Vai, um de verdade. 
- Então vai você primeiro enquanto eu penso. – pediu com um olhar piedoso e Camila sorriu, concordando. 
- Bem... Eu chorei como uma criança quando terminei com o Luciano. – Mila corou e Luan arregalou os olhos. 
- Quando eu descobri a traição... Eu corri para o banheiro da festa e as meninas vinheram atrás. Eu estava chorando muito e não queria que ninguém me visse daquela forma. – Ela confessou timidamente. 
- Então você... amava... ou ama o Luciano? – Luan perguntou com um olhar estranho, que Camila chutaria ser tristeza, se não conhecesse a pessoa em sua frente. 
- Claro que não! – Ela riu alto. – Eu estava chorando porque... – Camila fitou o nada e começou a falar muito baixo. – Porque foi muito difícil aceitar outra traição. 
Os garotos simplesmente não me levam a sério, não entendo. Sempre tem que aprontar alguma para acabar com tudo. Eu nunca amei ele, na verdade. – Ela olhou para Luan quando percebeu o olhar dele em seu rosto – Eu estava machucada, porque as coisas sempre dão errado comigo. Porque eu nunca vou encontrar alguém que realmente me entenda e que não me decepcione. Porque eu nunca aprendi a amar. 
Camila despejou em uma velocidade absurda, mas com a voz extremamente baixa, Luan teve que se esforçar para escutar. De certa forma, a confissão tinha feito bem a ela. Ela precisava colocar aquilo pra fora, e depois do que Luan havia dito sobre a preocupação com ela na social, achou justo dizer algo realmente relevante. Luan sorriu
- Ei, relaxa. – Ele sorriu. – Nem todos os homens do mundo vão te decepcionar. Talvez você só esteja procurando no lugar errado. 
Apesar dos dois só terem 16 anos, eles eram maduros o suficiente para entender a fraqueza do outro.
Mila retirou sutilmente sua mão dali porque sentia que ia estremecer. Sorriu de volta. 
- Agora é minha vez, não é? Beleza, acho que já sei. 
- Conte, conte! – Mila disse curiosa e riu de si mesma. 
- Bom, nessa brincadeira... a música que eu escolhi... – Luan estava ficando vermelho de novo. – Tinha um sentido. Não era aleatória. 
- Ah, sei. – Mila riu baixo.
- Pense em mim... – Luan cantarolou baixinho, e depois ficou tímido quando percebeu o que estava fazendo. 
- Sua voz é linda! – Mila sorriu e ele riu. 
- Cantar é mais que um hobbie pra mim. – Ele riu. – Nossa, primeiro elogio que você me faz em todos esses anos! Momento marcante! 
- Seu besta, não tente estragar meu humor! – Mila rolou os olhos. Era incrível que estivesse de ótimo humor ao lado dele, esperava ter uma péssima experiência dessa aula. 
- Preparada para a tal pergunta surpresa? – Luan fez voz de locutor de rádio e Mila desatou a rir. 
- Que medo de você. 
- Eu tenho medo é desse envelope! – Luan levantou e começou a ler. – “Parabéns, vocês chegaram até a pergunta surpresa!” Luan fez uma voz feminina e Camila quase engasgava de rir. “Agora é a hora mais importante: Escrevam um texto pequeno sobre a pessoa com quem que esteve nessa aula. Sobre o que você achava dela, sobre o que acha agora, mas com uma regra: Fale bem. Fale todas as qualidades de seu novo amigo, eu sei que ele tem muitas! E assim que terminarem, entreguem em minha sala!” 
- Aí meu Deus... – Foi tudo o que Camila conseguiu dizer. 
- Cê acha que vou falar mal ou bem de você?. –Disse ele com um sorriso de criança.
- Bem! Sou uma ótima pessoa, não tem porque falar mal de mim.-Falou sem dar muita atenção o que fez Luan rir. 
Os dois se olharam por alguns segundos sem escreverem nada. Então Camila abaixou os olhos e começou a escrever devagar no papel, concentrada. Luan arqueou a sobrancelha e sem dizer nada, fez o mesmo. De vez em quando, ele a olhava e via que ela sorria para algumas das partes em que escrevia. Isso o fez sorrir também. Em poucos minutos Mila acabou o texto e dobrou o papel, esperando pacientemente por Luan, que demorou um pouco mais do que ela. 
- Acabei. – Ele sorriu. 
- Eu também. Vamos entregar? – Ela perguntou já levantando, e ele a seguiu. 
Chegaram na sala rapidamente e algumas duplas estavam entregando seus papéis para a professora. Uma pilha de envelopes estava na frente dela, então ambos presumiram que haviam demorado na brincadeira. 
- Santana e Salsa ! – A professora sorriu. – Peguem um envelope para cada um, e do lado de fora escrevam “Luan Rafael sobre Camila Salsa ” ou vice versa, por favor. Depois coloquem na mesa. 
- O que a senhora quer fazer com isso? – Camila perguntou curiosa. 
- Nada. Só ter certeza de que vocês cumpriram a brincadeira. – Ela sorriu ao ver que Luan já colocava o envelope na mesa. Mila fez o mesmo, e os dois saíram da sala. 
- É... – Luan sorriu com as mãos nos bolsos – Esse último dia de aula foi... legal. 
- Também achei. – Mila sorriu – Eu me diverti, hoje. 
- Que bom Mila, eu também. – Luan disse e os dois andaram lado a lado em silêncio até o estacionamento. 
- Bom, acho que a gente se vê na viagem pra a mansão. – Mila fez um gesto engraçado e Luan riu. Os meninos haviam optado por viajarem em um vôo diferente do das meninas, para evitar confusões. 
- É, parece que sim. – Ele sorriu. 
- A não ser que você apareça na festa do Lago, hoje a noite. – Mila olhava para os pés. 
- Isso é um convite? – sorriu vitorioso. 
- Não. – Ela rolou os olhos. – A festa é para todos os alunos, você já estava automaticamente convidado. – A garota disse, e ele logo murchou. 
- Ah, sim. Eu não gosto dessas festas. 
- Faça um esforço então... Vai ser... legal. Se você for. – Camila definitivamente estava tímida. Falava muito baixo, coisa que não era normal para ela. Luan sentiu um calor estranho por dentro. 
- Vou tentar. – Ele sorriu. 
Então Julia chegou correndo e se envolvendo no meio da conversa. Ela estava afobada, os olhos furiosos. 
- Ah, você está aqui! Vamos, me dê uma carona pra casa! – Jujuba dizia rapidamente.
- O que houve? – Camila via a raiva transbordar pela expressão da amiga. Até Luan havia percebido. Julia ia responder, quando percebeu a presença dele ali. 
- Nada. – Ela rolou os olhos. – Vamos, temos muitas coisas pra organizar pra festa! – júlia disse puxando Camila que começava a tomar distância de Luan. 
- Luan! – Ela deu um grito em meio ao pátio. Ele levantou os olhos, e Julia parou de andar. 
- O que? 
- Tente aparecer. Eu vou esperar. 
Mila sorriu largamente acompanhando o enorme sorriso de Luan. 
Luan estava se sentindo bem, há muito tempo não sentia-se assim. De um modo ou de outro, as coisas estavam começando a parecer certas. Luan observou atento as duas garotas até que sumissem de seu campo de visão, com um sorriso idiota no rosto. 
- Amiga, o que foi isso?- Perguntou Julia segurando o riso- 
- Nada ué, e você porque está tão brava? – Porque está tão brava? 
- Essa aula foi a pior de todas. Eu odeio o, odeio, odeio o Matheus! – Julia dizia quase esmurrando o banco. – A sua também deve ter sido péssima. 
- Hm, eu diria que foi... – Mila procurava alguma palavra que não fosse tão explícita para dizer que tinha gostado da tarde com Luan.
-Juju ligou a rádio e ficou escolhendo qual estação deixar.-
Pense em mim, chore por mim (...)
Ecoou a música que a Julia havia deixado.
Camila riu, olhando pra baixo lembrando de minutos atrás. E sua preocupação era: Não conseguia mentir pra suas amigas. 
- Do que está rindo? – Jujuba franziu a testa, confusa. 
- De nada. E minha aula foi ótima. – Ela sorriu sincera, quando um mar de perguntas tomou conta do carro.

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